Ingurgitamento Mamário

Alguns problemas enfrentados pelas nutrizes durante o aleitamento materno, se não forem precocemente identificados e tratados, podem ser importantes causas de interrupção da amamentação. Os primeiros dias após o nascimento definem o início e a manutenção da lactação, podendo surgir dificuldades que requerem suporte à mulher para o estabelecimento da autoconfiança e resolução das dificuldades apresentadas. Dentre os possíveis transtornos com que nos deparamos na prática inclui o ingurgitamento mamário.

Como processo normal da lactogênese (formação do leite), a apojadura (descida do leite após o colostro) é designada como ingurgitamento fisiológico, em que ocorre retenção de leite nos alvéolos e as mamas ficam bem cheias. Não havendo alívio (se o bebê não mama corretamente), a produção do leite é interrompida (iniciando o desmame precoce), com posterior reabsorção do leite represado, em consequência ao aumento da pressão intraductal, o acúmulo de leite sofre transformação intermolecular e torna-se mais viscoso, sendo popularmente conhecido como leite empedrado.

O ingurgitamento mamário pode evoluir para mastite, um processo infeccioso agudo das glândulas mamárias, com achados clínicos como inflamação, febre, calafrios, mal-estar geral, perda da força física, prostração, abscessos mamários e septicemia (infecção generalizada).

É importante diferenciar o ingurgitamento fisiológico do patológico. O primeiro é discreto e representa um sinal positivo de que o leite está descendo. Não requer intervenção. Já no ingurgitamento patológico, a distensão tecidual é excessiva, causando grande desconforto, às vezes acompanhado de febre e mal-estar. A mama encontra-se aumentada de tamanho, dolorosa, com áreas difusas avermelhadas, edemaciadas e brilhantes. Os mamilos ficam achatados, dificultando a pega do bebê, e o leite muitas vezes não flui com facilidade. Costuma ocorrer com mais frequência em torno do terceiro ao quinto dia após o parto e geralmente está associado a um dos seguintes fatores:

Início tardio da amamentação, mamadas não frequentes e de pouca duração, utilização de fórmulas infantis, sucção ineficaz do recém-nascido, aumento repentino da produção de leite, lesão mamilar, que tem como um dos fatores determinantes a inadequada posição da criança durante a amamentação e apreensão do mamilo.

As mamadas em horários pré-determinados, controle de tempo da sucção, uso de sustentadores apertados para mama, uso de mamadeiras, não esvaziamento do leite restante após as mamadas nos primeiros dias e recém-nascido sonolento ou prematuro interferem no esvaziamento da mama e permitem o surgimento do ingurgitamento mamário. O ingurgitamento pode ficar restrito à aréola (areolar) ou ao corpo da mama (periférico) ou pode acometer ambos. Quando há ingurgitamento areolar, a criança pode ter dificuldade na pega, impedindo o esvaziamento adequado da mama, o que piora o ingurgitamento e a dor.

Prevenção

– Iniciar a amamentação o mais cedo possível;
– Amamentar em livre demanda;
– Amamentar com técnica correta; pega e sucção correta.
– Evitar o uso de complementos (fórmula infantil).

Tratamento

– Se a aréola estiver tensa, ordenhar manualmente um pouco de leite antes da mamada, para que ela fique macia o suficiente para o bebê abocanhar a mama adequadamente;
– Amamentar com frequência e em livre demanda, para equilíbrio entre produção e consumo pela criança;
– Fazer massagens delicadas nas mamas (importantes na fluidificação do leite viscoso e no estímulo do reflexo de ejeção do leite);
– Usar analgésico sistêmicos/anti-inflamatório (prescritos pelo médico)
– Usar sutiã com alças largas e firmes, para alivio da dor e manutenção dos ductos em posição anatômica;
– Usar compressas mornas para ajudar na liberação do leite;
– Usar compressas frias após ou nos intervalos das mamadas para diminuir o edema, a vascularização e a dor (revezar com a compressa morna);
– Se o bebê não sugar, a mama deve ser ordenhada manualmente ou com bomba de sucção. O esvaziamento da mama é essencial para dar alívio à mãe, diminuir a pressão mecânica nos alvéolos, aliviar o obstáculo à drenagem da linfa e edema, diminuir o risco de comprometimento da produção do leite e, sobretudo, da ocorrência de mastite.

Sobre as compressas

A vasoconstrição temporária causada pela compressa fria, reduz o fluxo sanguíneo, com consequente redução do edema, aumento da drenagem linfática e menor produção do leite. Tais compressas não devem ser utilizadas por mais de 15 a 20 minutos devido ao efeito rebote (o frio por tempo prolongado pode um aumento de fluxo sanguíneo para compensar a redução da temperatura local e consequente aumento no volume de leite nas mamas, o que, fisiologicamente, levaria ao aumento de ingurgitamento). Por outro lado, compressas mornas promovem vasodilatação, aliviando a compressão local, porém posteriormente aumentam a produção de leite, o que pode ser desvantajoso na vigência de ingurgitamento mamário.

Quanto aos instrumentos de avaliação do ingurgitamento mamário, utilizam-se a descrição visual, identificação de enrijecimento mamário, identificação da temperatura das mamas e avaliação dos sintomas causados pelo ingurgitamento e escala de dor.

Sobre os cuidados dos profissionais de saúde durante o período puerperal, é importante destacarmos que a maneira mais eficaz para reduzir a incidência de ingurgitamento mamário durante o puerpério imediato é a prevenção, que pode ser feita pela efetiva remoção de leite excedente após as mamadas. As práticas de orientação e auxílio da equipe de enfermagem podem afetar diretamente a produção de leite e, consequentemente, a amamentação.

 

 

 

Bruna Grazif
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Enfermeira, consultora em Aleitamento Materno e Laserterapeuta. Empreendedora e mamãe do bebê genial, Miguel. Nasci em Minas Gerais, me formei em Belo Horizonte, mas foi em São Paulo, capital, que comecei a trilhar minha história e decidi aprofundar meus conhecimentos sobre Aleitamento Materno. Logo após a gestação do meu bebê, comecei minha trajetória de trabalho empreendedor, o que me possibilitou evoluir meus conhecimentos. Meu trabalho é reconhecido a cada dia pelo atendimento dedicado, próximo e humano que ofereço. Sou Coautora do Livro "Segunda Infância Volume 2". Não trabalho, cumpro uma missão. Um grande beijo e conte comigo!

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